Duas Filhas de Edivânia

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Oi gente! Hoje temos mais um conto, e nesse eu vou resgatar uma dívida que eu tenho com um personagem: a tia Graça. Vocês devem se lembrar que ela é a irmã mais nova da dona Nadir, casada com o tio Alfredo, que acolheu em sua casa o Cauan. Ela sempre foi apresentada com uma pessoa muito tranquila, que ao contrário dos demais da família, não acredita em palmadas na educação. Mas também nunca fazia nada para evitar que alguém apanhasse, nem mesmo quando era o bumbum da sua filha Ariela que estava na reta.

Confesso que foi um vacilo meu deixá-la com esse jeito de mosca morta, mas esse episódio será todo centrado nela. Vocês devem se lembrar que no último conto da turminha, a Ariela apanhou da tia e foi queixar-se à mãe, que prontificou-se a ter uma conversa com a irmã. Como terá sido essa conversa?

Pelo resgate de suas recordações, será mostrado que a tia Graça tem, sim, uma personalidade forte, que desde a juventude fazia contraponto com a da irmã mais velha, mas as duas completavam-se. Duas filhas de Edivânia, a avó da turminha…

Tia Graça procurou ocupar-se com algo em sua cozinha, mas sabia que não podia disfarçar que estava tristonha, cheia de pensamentos. Dona Francisca passou por ela e logo percebeu. Não era do feitio da empregada e amiga deixar de questionar alguma coisa que houvesse visto de errado.

– Dona Graça, dona Graça… Conheço a senhora desde que era quase uma menina. E sei quando tem coisa! O que aconteceu, que está aí toda macambúzia?

– Ahn? Ah, está tudo bem, dona Francisca! – Respondeu a patroa, um pouco sem jeito – Só estava aqui pensando em tudo o que andou acontecendo…

Erguendo uma sobrancelha, dona Francisca não precisou de palavras para sinalizar o que lhe ia em mente. Já havia notado que a patroa andara sem ânimo desde a separação não-declarada do marido, que ultimamente estivera tão envolvido em suas viagens missionárias, que não parara mais em casa e quase não via mais a esposa e a filha.

“Não é até melhor assim, dona Graça? O seu Alfredo sempre foi tão distante da senhora e da Ariela, e também tão severo com a menina… E botava muito medo no menino Cauan…” Foi o pensamento de dona Francisca, cruzando o seu olhar com o da patroa. Entretanto, em sinal de respeito aos sentimentos dela, decidiu vir com outro assunto.

– Se amanhã a senhora precisar trabalhar até mais tarde, pode ficar despreocupada, arrumo um jeito de ficar aqui com a Arizinha!

A resposta veio com um sorriso contido, mas franco.

– Obrigada, dona Francisca! Eu aviso mais tarde! Agora, preciso ir…

Apanhando sua bolsa, ela se despediu, sem deixar de mergulhar nas próprias reflexões. Não era apenas a ausência do marido que estava mexendo com ela. Na realidade, tinha até mesmo a impressão de que a filha já havia se acostumado à nova situação, e compreendido que mesmo sem se divorciar no papel, na prática e em sentimentos os seus pais já estavam separados. “Tia Graça, posso perguntar uma coisa? Como uma pessoa tão dez como você consegue ser casada com um ogrão como tio Alfredo? Vocês não não match em nada, não têm nada a ver um com outro… Você tem o nome que tem porque é o nome certo. Graça… Mas o tio Alfredo, ele… Ele é, tipo…”

O adolescente não havia completado a frase para incluir ali um adjetivo que servisse ao tio. Mas a ousada pergunta do sobrinho Cauan, feita em um momento pós-bebedeira juntamente à oportuna observação, ainda estava ecoando em sua mente. Até um garoto de 16 anos percebera aquilo: ela o marido não combinavam em nada. 

Não conseguiu barrar as lembranças das ocasiões em que a filha Ariela havia apanhado do pai, mesmo totalmente a contragosto da mãe. Notou mais uma vez ter sido esse o principal conflito de valores do casal: o tio Alfredo era um convicto defensor e aplicador de surras, que já haviam sido sentidas por Ariela e também por Cauan, enquanto ela mesma, tia Graça, era contra castigos corporais. Ressabiada, perguntou-se como conseguira se casar com o parceiro sem antes ter conversado com ele sobre esse aspecto da criação de uma criança.

Desgostosa, recordou-se de algumas surras que haviam chegado ao seu conhecimento, e de como havia sido inútil tentar conversar com o marido para dissuadi-lo de bater na menina. “Mãe, o papai me bateu!”, era uma das muitas queixas chorosas de Ariela, após levar doloridas palmadas de seu pai. “Alfredo, por favor, a gente já conversou sobre isso!”

Mas o marido sempre vinha com seu tom monocórdio: “Fiz o que mandam as escrituras, Graça. Você deveria vir comigo à igreja, para aprender alguns ensinamentos sobre filhos. Um homem de família não deveria ir sozinho à casa de Deus. E a Ariela precisa se aproximar das crianças do culto. Estamos criando a nossa filha longe dos caminhos do Senhor!

“Nossa, era cada argumento sem cabimento…”, pensou, concentrada ao volante. Pelo menos, depois que Ariela fizera 12 anos, ele parou de bater. Talvez porque achasse ela muito velha para apanhar, mas não tinha a mesma postura com Cauan, e ainda se gabava de que foram aquelas surras que puseram juízo na cabeça do sobrinho. “A vara da correção!” Ele e suas citações bíblicas…

Teve que admitir que não estava precisamente sentindo falta do marido, mas lamentou por tudo o que Ariela tivera que passar. E recentemente, a filha havia passado por aquilo de novo, daquela vez não nas mãos do pai, mas nas mãos de parentes. Fechou um pouco a expressão enquanto ia estacionando o carro em seu local de trabalho. Lembrou da encostada na parede que dera em sua irmã Nadir, após a Ariela contar: “Eu apanhei para cacete! A tia Nadir me bateu! Elas me batem quando você não está aqui!”

Franzindo o cenho, rememorou a queimação que sentira ao ser informada daquele fato, e em como tivera a coragem de peitar a irmã mais velha, que sempre fora uma espécie de líder. Não fora uma discussão agradável, mas o recado precisava ser bem entendido. “Quanta ousadia, fazer da minha filha um saco de pancadas!”, fora o seu pensamento inconformado na ocasião, antes de deixar a dona Nadir com muito o que refletir, e de ir conferir as marcas de palmadas nas nádegas ainda avermelhadas da filha, passando-lhe um creme para aliviar. Cuidar do bumbum castigado de Ariela já fora sua função muitas vezes naqueles anos de casamento, assim como uma função de dona Francisca, após os “corretivos” metodicamente administrados pelo pai da menina. 

Em sua mesa de trabalho, tia Graça bebeu um café e terminou alguns afazeres. Tentou em vão espantar aquelas memórias e pensamentos. Uma imagem de Ariela em um porta-retratos a levou a sorrir enternecida, pensando em como a filha poderia ter tamanha semelhança física com ela, ao passo em que suas personalidades eram tão diferentes. “Essa minha menina, tão arteira e cheia de respostas…”

Ainda deliciando-se com o porta-retratos em mãos, pensou em sua própria imagem com aquela idade. Uma pré-adolescente meiga, geralmente sensata, mas que por influência da irmã Nadir, nem tão mais velha que ela, acabava importando a fama de “Pinta-Brava”. Não tendo mais muitas tarefas a cumprir em sua divisória no escritório, aproveitou para deixar o pensamento vagar. As mesas, as telas dos computadores e os quadros da parede foram desaparecendo, e ela estava de volta à época em que ainda era chamada de Gracinha, quando era a sombra da irmã e ambas viviam de estrepolias na pacata cidadezinha de Campo Belo.

– Pega, Graciola!

E vinha a ligeira bola de borracha, logo jogada de volta, enquanto as irmãs iam rodando em círculos com a turma da rua. A tarde ia caindo, mas a animação só subia.

– Nadir! Gracinha! Hora do banho! – Soava a voz da mãe, dona Edivânia.

A dupla de pré-adolescentes suadas e de rostos vermelhos de tantas corridas se despedia do grupo, que já estava se dispersando, como era costumeiro quando o dia começava a dar lugar ao anoitecer.

À mesa de jantar, quando os pais perguntavam como fora o dia de cada filho, Nadir sempre se apressava para ser a primeira. “Só porque é a mais velha, sempre assim…”, era o corriqueiro pensamento de Gracinha, daquela vez puxando o fio de espaguete com a boca e achando certa graça do excesso de energia da irmã.

– E você, Gracinha? Pegou muitos lances hoje? – Foi a intervenção de seu Rosalvo, o pai.

– Ela foi massa, pai! Conseguiu agarrar umas três vezes! E que velocidade, cada jogada! A Graciola vai ser a futura rainha do arremesso!

Trocando um olhar com a esposa e dando uma risadinha, o pai respondeu à primogênita.

– Nadir, deixe a sua irmã falar… Ela nem teve a chance de respirar e abrir a boca!

Caindo em si, a jovem Nadir reparou a gafe.

– Ah, é… Desculpa aí, maninha! Pode contar tudo. Ah, e não esquece de falar daquele drible duplo!

Com um risinho discreto, a jovem Gracinha fez o seu relato, comentando os feitos que haviam sido o orgulho de sua irmã. Nadir era assim. Orgulhosa da irmã mais nova, mas sempre pronta para falar por ela. Gracinha gostava de Nadir, mesmo que muitas vezes não soubesse definir se aquela liderança lhe servia como luz ou sombra, ou talvez como as duas coisas, que iam se alternando de acordo com a ocasião.

De volta ao escritório já silencioso, tia Graça lembrou-se que era em momentos como aquele que colocavam em questão a sua posição na casa. Nadir era a primogênita, e decerto a mais cobrada. Era a mais velha, tinha que ser “bem comportada”, cuidar dos irmãos, prestar contas aos pais. Não, ela com certeza não queria ser a Nadir. Mas ser a segunda, que viera tão pouco depois da estreante? Não se via com alguns privilégios dos irmãos mais novos, cujas travessuras eram mais desculpadas por eles “ainda serem pequenos”.

Tinha quase a idade de Nadir, portanto era “uma moça” – ao menos era o que diziam os pais e a parentada toda. Porém, não era a primeira moça da casa. Não estava no alto da escala. Quando Nadir estava encarregada de tomar conta de todos, Gracinha era uma “assistente”. Nem chefe, nem subordinada; quiçá uma subchefe. Sempre que uma peça de roupa não servia mais em Nadir, Gracinha a recebia como um presente de segunda mão. Se Gracinha desejava fazer algo mais ousado, como colorir os cabelos ou visitar algum lugar onde os pais em geral não gostam que os filhos estejam, tinha que esperar Nadir fazer na frente, como se a irmã fosse o piloto de teste.

E a mais dolorida das conclusões: quando Nadir apanhava, ela quase sempre apanhava também. Mesmo que a líder do esquema geralmente fosse a irmã e ela só estivesse indo na onda.

Mas Gracinha também gostava de conhecer o mundo apresentado pela irmã, e se sentia honrada quando Nadir a defendia dos percalços da vida. Apesar de ser apenas um ano e pouco mais velha, a irmã lhe parecia uma barra de aço. Forte e indestrutível, até na hora que o couro era batido. Ao passo em que Gracinha se sentia acuada e indefesa diante da força e da brabeza dos adultos, Nadir conseguia morder os lábios e apertar os olhos, suportando tudo com uma nobreza de mártir. Mesmo nesses momentos ela se esforçava para ser exemplar, um modelo aos irmãos novos. Gracinha não tinha essa responsabilidade, por isso se sentia livre para chorar, gritar e fazer o que achasse que estava em seus direitos de filha surrada.

“Deve ser difícil ser a Nadir. É, deve sim…”, pensava ela na época. Posto que se os irmãozinhos caíam naquele embuste de “irmã resistente”, Gracinha podia ver através da armadura de Nadir. Ela era a única da prole que conseguia enxergar a alma de Nadir e encontrar os sentimentos represados da irmã. “Mas ainda tem força para fingir resistência. Para não se abrir na frente dos adultos, e poupar os irmãos mais novos.” Gracinha sabia que não queria ser a Nadir. Mas sempre queria aprender com ela.

E de fato, naquele dia quente e ensolarado, estando uma com os seus 13 anos e a outra com seus quase 12, Gracinha realmente aprendeu com a irmã mais velha. Ambas haviam passado a tarde perambulando pelas ruas e pelos bosques de Campo Belo, explorando, brincando, tomando banho de cachoeira e pedalando suas bicicletas. Mas contrariando a ordem dos pais, as irmãs resolveram voltar para casa pelo caminho paralelo à linha do trem. A malha ferroviária das cidades do interior ainda operava com frequência, e não havia pai ou mãe daquelas redondezas que não temesse que os filhos escolhessem a hora errada para contornar ou atravessar aqueles longos trilhos de ferro, posto que os trens não perdoavam distrações. Havia lendas macabras sobre crianças e jovens pegos pelos vagões e nunca mais encontrados, ou não como gostariam de ser encontrados, decerto histórias criadas por alguém ávido para demover a garotada de tentar desafiar uma máquina mais forte e mais veloz que seus corpos. 

Entretanto, naquele final de tarde o perigo não estivera no trem, mas na turma que vivia do outro lado da linha. Em Campo Belo havia uma antiga rixa entre o pessoal que morava no lado de Mangueirais e os moradores do lado de Cocais, cuja divisa era precisamente aquele trilho duplo por onde os trens corriam. Gracinha e Nadir haviam inadvertidamente cruzado a fronteira dos inimigos, e agora viam-se lentamente cercadas por aquela gangue de meia dúzia de garotos e garotas montados em suas bicicletas.

A respiração de Gracinha já sinalizava um princípio de pânico, mas Nadir, com olhos de lince, brecou a bicicleta aos poucos e disparou em tom pausado e grave, sem voltar o rosto para a irmã:

– Mantenha a postura. Nada de mostrar medo.

Engolindo em seco, Gracinha replicou, mirando a turma de briguentos já de cerco fechado na passagem das bicicletas.

– M-mas, Nadir, eles vieram em bando! A gente vai levar o maior pau!

Barrando a irmã com a mão, Nadir replicou de bate-pronto:

– Eles são como animais, Graciola. Se você der bandeira que está com medo, eles vão sentir até o cheiro, e é aí que eles atacam. Mas se você ficar firme no seu eixo, eles vão ficar só na pose e na intimidação, mas não vão atacar. Confia em mim!

Mordendo os lábios, Gracinha ainda mostrou hesitação. Nadir, segura, sussurrou:

– Deixa comigo. Não fala nada por enquanto, eu cuido deles.

O bando já estava esperando uma aproximação, posto que recuar e ir embora pelo outro lado seria o maior sinal de covardia, e comprar a briga seria derrota na certa, estando duas contra seis. Nadir desceu de sua bicicleta e foi se aproximando do grupo levando-a na mão, assim mostrando estar pronta para negociar e não para fugir ou lutar. Gracinha decidiu fazer o mesmo.

– Esqueceram as regras, suas Marias-Chiqueiro?! Esse lado da linha é nosso! – Disparou por fim um garoto de cabelos eriçados que parecia o chefe do bando.

Respirando fundo, Nadir procurou responder no tom mais humilde que conseguiu.

– A gente não esqueceu não, Castolinho. É que a gente se distraiu mesmo, e quando viu, já estava aqui, do lado de vocês…

O grupo se entreolhou, procurando uma resposta no rosto do líder. Ele mesmo se adiantou:

– Vocês acham que a gente tem cara de trouxa?! Se distraíram… Sei! Acho que elas precisam de uma lição, para aprender a ficar mais espertas e não meter a roda no território dos outros. O que vocês acham, gente?

O grupo concordou de imediato, para apreensão de Gracinha. Conseguindo disfarçar o medo, Nadir rebateu, tentando não subir o tom:

– Tudo bem, a gente aceita uma lição. O que vocês querem como recompensa?

Surpreso, o capitão do bando apertou os guidões, pensando no que responder.

– Ah, já entendi, querem negociar…

Queixo empinado, Nadir concordou com a cabeça. O garoto desceu de sua bicicleta e começou a se aproximar da Nadir, afastando-se ligeiramente de sua gangue. Gracinha também estava pouco atrás da irmã. A conversa ficou de líder para líder.

– E se eu tomar as bikes de vocês, e aí vocês zarpam daqui, e voltam a pé para casa? Faz justiça?

Obedecendo um impulso, foi a vez de Gracinha rebater.

– Ah não, Castolinho, as bikes não!

Mas Nadir fez um gesto rápido para calar a irmã. Com olhar triunfante, o garoto ouviu a contraproposta de Nadir.

– A gente não pode voltar para casa sem as bikes.

Erguendo uma sobrancelha, o garoto replicou, cruzando os braços:

E por que não? Senão, a mamãe e o papai vão dar uma coça em vocês?

Os risos provocadores da turma fizeram Nadir pôr um pouco mais de agudeza no olhar, e Gracinha, por seu turno, também começou a sentir alguma irritação. Já endurecendo o tom, o garoto impôs:

– Pegar ou largar! As bikes, ou o couro das duas! A gente não sai daqui sem ou um, ou outro!

– Castolinho, saca só, se vocês chegarem em casa com as nossas bikes, os pais de vocês vão querer saber de quem são… – Respondeu Nadir, segurando a bicicleta com mais firmeza – E aí vocês vão ter que contar tudo, confessar que pegaram da gente. Eles vão achar que isso é roubo, e aí, quem toma no couro são vocês… Não vale a pena, cara!

Parecendo sentir uma ficha cair, o garoto mudou a expressão. A turma mais atrás também titubeou um pouco.

– Pode crer, Casto! – Disse alguém lá atrás – A Mangueirais aí tem razão!

Por alguns segundos, Nadir aproveitou a sensação de vitória antecipada, e Gracinha quase sorriu em alívio. Mas o líder não estaria inclinado a dar o braço a torcer.

– E quem disse que a gente vai levar as suas bikes para casa?! É só a gente jogar em qualquer canto do mato, que ninguém vai descobrir! E aí vocês já pagaram a multa por invasão de território!

O coro da turma fazendo “Ééééé!” em comemoração pôs Nadir em maus lençóis por um breve tempo, mas ela conseguiu pensar em uma solução rápida.

– Acho que a gente pode fazer de outro jeito! Em vez de vocês catarem as nossas bikes, a gente começa a vir aqui em Cocais todas as tardes por uma semana, para fazer serviços para vocês! O seu pai não vive mandando você limpar coisas na garagem lá da oficina, Castolinho? Então: eu e a Gracinha fazemos isso no seu lugar, e você pode ficar de bobeira na rua fazendo o que quiser, e ainda ganhar os méritos com o seu velho! Matuca, não é você que reclama de ter que passear com aqueles cachorros pentelhos da sua avó e comprar uns trambolhos na farmácia para ela, em vez de ir na colina das ladeiras namorar o João Tico? Então, a Gracinha é boa com animais… Ela pode se encarregar da matilha, e a gente dá cobertura para você se amassar à vontade com o seu ficante. E aí eu pego as coisas na farmácia, e você leva para a sua avó e finge que foi você que arrumou. E sei que tem bem mais trabalho que a gente pode fazer para compensar a invasão de hoje, sem ter que entregar as bikes! A gente até vai precisar delas, para conseguir fazer tanto trabalho no lugar de vocês…

Sob o olhar de expectativa de Gracinha, o líder do bando fez uma expressão pensativa, e logo já se ouviu o burburinho de todos mais atrás. Nadir continuou impassível, mostrando segurança. Meneando a cabeça e pondo agudeza no olhar, o garoto enfim deu a resposta.

– De acordo, Nadir de Mangueirais… Mas uma semana é muito pouco. Um mês!

Gracinha arregalou os olhos, e foi Nadir que continuou com a palavra.

– Um mês é muito!

Estendendo a mão e fazendo um gesto convidativo, o garoto desafiou:

– Tá bom, então pó passar as bikes!

– Duas semanas! – Replicou Nadir, recuando e pedindo calma – É o nosso trato.

– Três, assentando! Três semanas, ou as bikes! – Devolveu o garoto, negando com a cabeça.

– Ou entram no couro! – Soltou alguém do grupo de trás.

Soprando o ar ao ouvir a risadaria geral, Nadir concordoi com a cabeça, e deu o arremate.

– Trato feito. Três semanas. Na segunda-feira, depois da escola, a gente passa em Cocais para fazer o que vocês quiserem.

Empinando o rosto, o garoto devolveu em tom enérgico:

– Que segunda-feira o quê, garota! Vocês começam amanhã!

Desta feita, o tom de Nadir saiu em indignação.

– Amanhã?! Mas é fim-de-semana!

– Problema seu, ô do Mangueirais! Ninguém mandou pedalar dormindo e cruzar a fronteira!

Avançando discretamente com sua bicicleta, Gracinha chegou perto da irmã e dirigiu-se a ela.

– Nadir, é melhor! Quanto mais cedo a gente começar, mais cedo vai estar liberada…E sábado quase ninguém dá serviço para os filhos fazerem, vai ser até mais fácil!

Tendo um estalo, a Nadir franziu o cenho.

– Hum, e não é que a Graciola tem razão? Está bom, Castolinho. Até amanhã, então! Que horas?

– Às oito. Nem um minuto a mais!

– Negócio fechado!

Os dois apertaram as mãos para selar o acordo, e então o líder comandou:

– Agora, montem nessas bikes e sumam daqui! Antes que a gente mude de ideia!

O coro de papagaios da gangue voltaria a entoar “Éééééééééé!” As vitoriosas irmãs voltaram a pedalar, dessa vez pegando um caminho mais fácil, vendo que o céu não tardaria a escurecer.

A dupla de risonhas celebrou aquela façanha, felizes por terem saído inteiras de um encontro perigoso.

– Olha a Graciola, a rainha da esperteza! Valeu, maninha! Você pensou bem! Sábado e domingo deve ser tudo morto lá em Cocais, os trabalhinhos que vão dar para a gente fazer vão ser bem mais leves!

– Não sei o que me deu, mas consegui pensar isso na hora! – Respondeu a empolgada Gracinha – E você também foi muito esperta, Nadir! Se não fosse você pensar rápido, a gente ia ter levado cada cacete… Eles são um bando de folgados!

A irmã concordou com a cabeça, pedalando lado-a-lado com ela. Gracinha ainda observou:

– E essa história de negociar quantas semanas a gente vai ter que ficar indo lá, hein? De onde você pensou isso?

– Se chama barganhar, mana – Respondeu Nadir, sorriso maroto – E isso você também vai aprender!

A irmã soltou uma risada gostosa, sentindo o vento no rosto. Nadir acelerou de repente, desafiando:

– Quem chegar por último, vai passar três semanas fazendo o Luisinho dormir!

Rindo mais alto, Gracinha fez força para alcançar a irmã. Decerto nenhuma das duas queria a exaustiva incumbência de ninar o irmão caçula. Passando pelas ruelas iluminadas, as duas chegaram em casa alegres, cobertas de poeira, suor e graxa, e rumaram para dentro após uma ajudar a outra a se lavar ligeiramente com a mangueira do quintal.

– Mãe, pai, chegamos! – Anunciou a jovem Nadir, já adentrando pelo corredor.

Mas a mãe não estava com a mesma empolgação que as filhas. Colocando o telefone de volta no gancho, dona Edivânia exibiu um semblante que misturava alívio e apreensão ao ver as duas filhas entrarem. As irmãs de súbito sentiram o balde da água fria, pressentindo estarem encrencadas, e engoliram em seco. Fez-se um breve silêncio, e quem tomou a palavra foi a mãe, levantando do banquinho do telefone.

– Meu Deus, por onde vocês andaram?! Seu pai acabou de pegar a caminhonete para ir atrás de vocês lá na malha ferroviária!

Alarmadas, as irmãs se entreolharam, mas da boca não saiu palavra. A mãe prosseguiu:

– Ninguém sabia de vocês, então eu liguei para mercearia do seu Marcondes e perguntei se vocês tinham passado lá. Ele disse que viu vocês descendo com as bicicletas em direção aos trilhos! Isso é verdade?

Já com um bolo no estômago, a adolescente Nadir afirmou com a cabeça e deu uma desculpa, amuada.

– Foi só para cortar caminho…

– Cortar caminho?! – Rebateu a mãe, subindo ligeiramente o tom – Então por que demoraram todo esse tempo para chegar em casa?! Já está noite caída! E estão imundas, por onde mais vocês passaram?

As meninas caíram em si sobre o tempo que haviam perdido na discussão com o pessoal do território inimigo, e do mesmo modo a rota escolhida para voltar para casa não fora um bom atalho. Olhando para cima e tomando ar como quem precisa se acalmar muito, a mãe soltou a ordem, evitando gritar.

– Vão para o banho. As duas! Depois, ponham o pijama e me esperem no quarto! Eu preciso pensar no que fazer com vocês! Andem!

Sem ousar tentar qualquer argumentação, a dupla seguiu para o chuveiro, e depois para o quarto dividido, onde se vestiram com as roupas de dormir e puseram-se a esperar pela mãe. Foi uma espera angustiante, e nenhuma das duas se encorajou a perguntar o que estaria para acontecer. Mas a suspeita reverberava no silêncio pesado.

Passaram um tempo naquele sofrimento por antecipação, sem trocar palavras, já sabendo não ter muito o que fazer para acalmar a mãe. Nadir ficava puxando a ponta do cobertor, procurando espantar maus agouros, enquanto Gracinha permanecia sentada em sua cama, meio encolhida, abraçando os próprios joelhos. As duas ouviram ao longe o som da caminhonete sendo estacionada, sinalizando o retorno do pai. Logo estavam escutando fragmentos da conversa do casal, sem distinguir muito as palavras, apenas a voz agoniada e irritada da mãe.

– Vai ver que o papai está mais calmo, e fala para a mamãe não castigar a gente…

Mas o comentário de Gracinha saiu desanimado e sem muita esperança. Negando com a cabeça, Nadir pronunciou-se com o tom e a expressão quase conformados.

– Deixa disso, Graciola. Você sabe o que a mamãe vai fazer com a gente… Só ela acha que não sabe, e vem com aquela conversa… Daqui a pouco ela vai entrar aqui com um chinelo, fazer mais um daqueles sermões, e então a borracha vai cantar. E acho que nem adianta a gente tentar colocar amortecimento, porque do jeito que ela ficou uma fera, periga até querer descer as suas calças e subir a minha camisola…

Gracinha engoliu em seco e já fez uma leve cara de choro, em especial porque sabia que Nadir nunca errava essas previsões. Percebendo que Gracinha já estava entregando os pontos, Nadir esforçou-se para ficar serena. Gentilmente segurou no pulso da irmã mais nova, e as palavras saíram em tom resoluto.

– Ei, ei, nada disso! Lembra do que eu falei lá na linha do trem? Mantenha a postura!

Já soltando algum choro, Gracinha abaixou a cabeça e deixou a revolta sair, com a voz embargada.

– Mas eu odeio apanhar! Odeio!

– Eu também! – Respondeu firme Nadir – Alguém gosta, maninha? Mas se não dá para escapar, então enfrenta! Se segura e não mostra medo! Ouve toda a palavraria que a mamãe vai falar com cara de quem está prestando a maior atenção, concorda com tudo, e depois fica no seu eixo!

– Mas… como? – Perguntou Gracinha, fungando.

Nadir abaixou-se perto da irmã para explicar.

– Olha para mim. Você suporta. Tranca a boca, segura a respiração, aperta os dedos com força. Assim, parece que a dor sai da sua cabeça, como se você estivesse jogando fora. Quando eu estou apanhando, tento pensar em alguma coisa legal, tento fingir que nem é comigo, e é assim que dá certo. Por isso eu consigo ficar tão calma, mesmo se me batem do pior jeito…

Acalmando-se, Gracinha fez uma expressão de quem relembra algo significativo.

– É mesmo… Às vezes até parece que estão batendo em um travesseiro, quando batem em você…

Não obstante o momento não fosse feliz, Nadir conseguiu sorrir enternecida, e fez uma carícia na irmã. Gracinha ficou mais conformada. Do outro lado da porta vinham sons indistintos, às vezes os passos da mãe pareciam estar se aproximando, mas se dirigiam a outro lugar. O telefone tocou, e a mãe atendeu. Sem distinguir com quem a mãe falava, Gracinha não sabia se queria que o tempo parasse, ou se andasse mais rápido. Estava decidida a enfrentar tudo conforme a irmã mais velha lhe aconselhara. Experimentou até uma irritação ao ver que a mãe tinha outras coisas a lidar antes de dignar-se a cuidar do caso delas. Por fim os passos se aproximaram, e ouviu-se o clique da maçaneta. Ambas correram de volta para a própria cama antes que a mãe pudesse entrar.

– Meninas, o que vocês fizeram foi sério. Quantas vezes eu e o seu pai já falamos que não queremos ninguém passando perto daqueles trilhos? É muito perigoso! Vocês têm noção do risco que correram?

O tom não era de raiva, mas tinha uma inquietante frieza. A resposta das cabisbaixas irmãs saiu com a voz encolhida:

– Sim, senhora…

Meneando a cabeça em aprovação, com os braços cruzados, dona Edivânia anunciou, tirando o chinelo de um pé:

– Vão apanhar, as duas! Para aprender a escutar! Nadir, você que é a mais velha, vem primeiro. Pode virar de bruços, aí na sua cama mesmo!

Gracinha arregalou os olhos. Não bastasse o terror da espera por saber que seria a próxima a levar uma surra, ela ainda sempre era obrigada a ficar assistindo o tormento de quem apanhava primeiro. Por que seus pais eram assim? Já o semblante de Nadir, enquanto se mostrava tranquila ao virar o corpo e deixar as nádegas ao alcance da mãe, parecia sinalizar: “Pelo menos dessa vez o falatório foi rápido…” Procurando não sair do estado sereno, como que dando uma resposta à provocação da filha mais velha com sua postura isenta de emoção, dona Edivânia subiu a camisola da adolescente, deixando-a coberta apenas com a roupa de baixo.

“Ah não, a Nadir acertou…”, pensou Gracinha. Naquele momento viu a irmã agarrar as bordas do colchão, virar o rosto para ela e dar-lhe uma piscadinha, abrindo um sorriso de cumplicidade. Sem sentir, e sem saber de onde tirara a coragem, Gracinha retribuiu. A mãe ergueu o chinelo no ar e começou a surra.

Gracinha manteve os olhos fixos na irmã, e viu-a limitar-se a tomar um ar profundo, segurar a respiração e apertar os olhos, como quem prende a respiração debaixo d’água. O chinelo ia e voltava, carimbando uma banda e outra do bumbum dela, com a mãe mantendo a expressão imutável como uma máscara. “Isso é assustador…”, pensou Gracinha, mordendo os lábios.

CHLÉPT! CHLÉPT! CHLÉPT! CHLÉPT! CHLÉPT! CHLÉPT!

Gracinha estava hipnotizada pela imagem do bumbum da irmã coberto pela calcinha, que balançava a cada chinelada. O tronco se mantinha imóvel, mas a respiração ofegante provocava um tremor, e os pés se ergueram ligeiramente com os dedos contraídos. Não conseguiu ver o rosto dela, enterrado no colchão. Virou-se para contemplar o rosto da mãe, e assustou-se com sua expressão fria. Quando Nadir soltou um gemido discreto, Gracinha preferiu virar o rosto para não ver o restante da cena. Só pôde escutar aquelas pancadas secas do chinelo de borracha atingindo a pele pouco protegida da irmã, até que a mãe se desse por satisfeita.

CHLÉPT! Ahn CHLÉPT! Ohn CHLÉPT! Ahn CHLÉPT! Uhn

– Terminou, Nadir. Que lhe sirva de lição!

Gracinha suspirou resignada, e não esperou nenhum comando da mãe para esticar o corpo de bruços na cama e aguardar que ela lhe baixasse a calça do pijama, como previra Nadir. Conseguiu divisar o rosto da irmã, que a essa altura já estava bem vermelho, mas tinha as mãos mais relaxadas e a respiração entrecortada. As irmãs cruzaram as vistas de novo, e Nadir lançou-lhe um olhar de encorajamento. Logrou manter a postura rígida enquanto a sentia a calça do pijama ser puxada para baixo, e então a primeira chinelada caiu.

CHLÉPT!

Gracinha teve que fazer força para disfarçar a careta. “Mantenha a postura!”, pensou, como se a irmã lhe falasse novamente. Mas Nadir estava quieta em sua cama, ainda amortecida pelas chineladas que acabara de levar. E a surra de Gracinha prosseguiu.

CHLÉPT! CHLÉPT! CHLÉPT! CHLÉPT!

Trocando o medo por raiva, ela decidiu não gemer, não gritar, não deixar uma lágrima cair, e mordeu com força uma prega do cobertor, enquanto experimentava toda aquela ardência explosiva do chinelo da mãe batendo-lhe nas nádegas. “Quer bater?! Então, bate!”, foi seu pensamento raivoso. Suportou a surra com uma compostura digna da irmã mais velha, o que, contudo, nem mesmo provocou algum desconcerto na mãe, ocupada que estava em dar o “corretivo” na segunda filha. Ela finalmente pararia de bater, e anunciou no mesmo tom solene:

– Vão ficar de castigo, ouviram? Amanhã, nada de sair de casa!

Desta feita, ambas arregalaram os olhos e trocaram mais um olhar. Foi Nadir quem antecipou-se para dar a explicação.

– Não, mãe, isso não! A gente não pode ficar de castigo!

– Mas que história é essa, é claro que podem! – Devolveu dona Edivânia em tom irritado, meio sem entender aquela réplica – Eu que decido, está decidido, dona Nadir!

– Mas mãe, escuta, por favor! – Interrompeu Gracinha, rápida – A gente falou com os garotos de Cocais que…

– Não quero saber, dona Graça! – Foi o corte bem nervoso da mãe, sem dúvida julgando que a combinação teria sido de alguma diversão prevista – Já estou por aqui com esses aprontos e confusões! Amanhã começa o castigo de vocês, e acabou! Nem mais um pio!

– Mãe, mas é que…

– Chega, Graça! Acabou a conversa, ou dou mais uma rodada de chineladas em você e na sua irmã!

Gracinha segurou os lábios na mesma hora, temendo por si mesma e por Nadir. Ar de satisfeita, a mãe deixou o quarto. Vendo-se sozinhas, as irmãs negaram com a cabeça, inconformadas.

– Mas que enguiço!

Nadir socou a cama ao dizer a frase. Gracinha continuou com rosto enfadado.

– A mamãe nunca ouve! Só vem batendo! – Foi a queixa de Nadir.

– Ah, mas você fez direitinho! – Disse a irmã tentando animá-la – Eu também, né? Não gritei nadinha…

Como se aquelas palavras lhe fizessem mal, de repente Nadir começou a soltar lágrimas de raiva, até desembocar em um choro sentido.

– Que foi, mana? Vai chorar agora, que tudo já acabou? – Indagou Gracinha, surpresa.

– Acabou nada, Graciola! – Explicou Nadir com uma voz fanha – A gente vai ficar de castigo e se ferrar com aqueles moleques lá de Cocais! E depois, você acha que acabou mesmo? A surra começa a doer para valer é agora!

Gracinha relembrou desgostosamente que a irmã estava certa: muitas surras parecem suportáveis com a adrenalina do momento, mas podem doer terrivelmente depois que já foram encerradas. Fez uma careta ao sentir a própria pele latejar, e enfiou a mão por dentro da calça do pijama. Já podia sentir nos dedos as ondinhas dos vergões emergindo salientes, marcas das bordas arredondadas do chinelo.

– Quer que eu veja sua bunda? – Perguntou, ansiosa para melhorar o astral da irmã mais velha.

Nadir não disse nada, mas virou-se e suspendeu a camisola, descendo a calcinha em seguida. Gracinha notou o vermelhão que já começava a empelotar aqui e ali, as mesmas marcas arredondadas que sentira com os dedos em suas próprias nádegas.

– Quer que eu passe alguma coisa, Nadir?

– Valeu, mas não faz diferença! – Respondeu a irmã, irritada.

– Ah, faz sim! – Insistiu a mais nova – Aqueles preparados especiais da mamãe sempre aliviam, né? A gente não brinca que ela é uma bruxa?

Impaciente, a jovem Nadir tratou de ser mais enfática,

– Não é isso, mana! – Não vai fazer diferença na decisão da mamãe! Ela deu a sentença, e pronto! Eu não aguento mais isso! Não aguento mais ser a mais velha, e viver apanhando o dobro, e não ter a chance de me explicar! Desculpa eu sempre meter você em problemas, Gracinha!

O choro robusto da irmã comoveu a pré-adolescente, que sentou na cama ao lado dela, e começou a acariciar-lhe os cabelos. Então Gracinha estava certa: a Nadir-Pinta-Brava não era de ferro, como aqueles trilhos de trem, e também sofria e se magoava, como qualquer outra pessoa… Mas era uma boa irmã. Acolheu-a no colo, como se fosse ela a mais velha e Nadir a mais nova. Depois, vendo o choro cessar, foi até a gaveta para pegar a “poção mágica”, aplicando-a cuidadosamente no bumbum castigado da irmã mais velha.

– A senhora quer um café?

A pergunta da faxineira que começava a limpar o escritório trouxe a tia Graça de volta ao presente. Agradeceu, e pôs-se a meditar. Entre as muitas memórias de coças que levara no passado junto com a irmã, aquela fora particularmente marcante. Tentou retomar as lembranças, mas as imagens agora se mesclavam com cenas de um passado mais recente, quando foi Ariela, e não a irmã Nadir, a dona do bumbum machucado. Suspirou, recordando de como conseguira conversar com a mãe no dia seguinte e explicar tudo o que acontecera, contando sobre o embate com a turma de Cocais e sobre como poderiam sair prejudicadas se não cumprissem o acordo de passar no território deles para fazer serviços pessoais.

– Nadir, por que você não me contou isso ontem? – Questionou dona Edivânia, pasma.

A irmã deu uma resposta revoltada, afirmando que Gracinha havia tentado se explicar e só levara cortes, e que não adiantaria mesmo falar nada, posto que a mãe sempre desconfiava dela e lhe cobrava por ser a mais velha.

– Falar a verdade para quê? A senhora não ia acreditar mesmo, e até se acreditasse, só ia arrumar outro motivo para bater na gente!

Dona Edivânia não quisera admitir, mas Gracinha havia notado a estupefação da mãe. Ela sempre fora boa para ler sinais faciais…

Pegando a xícara de café, tia Graça ficou pensando na irmã. Nadir crescera e se tornara mãe, e ainda mais, mãe de cinco. Mas uma coisa a desagradava: a irmã esquecera como era apanhar dos pais, e passara a ser uma mãe que bate nos filhos. Por sua mente passaram algumas cenas de surras que acontecera dela presenciar por estar no recinto. Não podia se meter, mas… sentira uma angústia ao ver os modos frios da irmã, parecidos com os da mãe de ambas. “Aqui…” E dava dois tapinhas sinalizando o colo onde a vítima da vez deveria se deitar.

Recordou-se da expressão angustiada da vítima, relutante em expor o bumbum sobre o colo da mãe, e ao mesmo tempo impotente ante a firmeza dela. Aquilo era tão diferente de Nadir jovem… Ela não entendia. Todos que ela conhecera odiavam apanhar, e agora batiam com toda a naturalidade. “E eu?” Tia Graça sabia que era uma mãe mais paciente, razoável e ponderada do que a irmã Nadir, e do que várias outras pessoas da família. Porém, ela havia se casado com o tio Alfredo. Talvez ele não batesse com mais força, mas por sua postura, era mais assustador do que a irmã Nadir, a mãe Edivânia, o pai Rosalvo, não obstante possa ser improdutivo comparar “tipos de surra” para tentar definir se algum modo seria mais ou menos tormentoso para quem leva as lambadas.

O marido tinha a mesma postura implacável que a irmã Nadir conseguia mostrar quando era castigada; mas ele agia assim no papel de castigador. E Ariela chorava sentida, ou esperneava com raiva, ou se encolhia e ia se queixar das palmadas da mão potente do pai. Doía-se ao rememorar aquelas cenas, como se desejasse poder absorver o que a filha sentia para preservá-la daqueles momentos. Não se orgulhava da escolha matrimonial, nem de sua passividade diante da severidade do marido, mesmo que soubesse que tantas vezes tentara fazê-lo mudar de ideia.

“Excesso de diplomacia…”, pensou com os seus botões. O tio Alfredo não era uma mente para os diplomáticos. Alguém com tamanha rigidez de convicções precisava de uma atitude mais enérgica. Aquela atitude que ela conseguira ter com a irmã já adulta, e até com a mãe, quando soubera que Ariela já andara apanhando delas em sua ausência. Fez um pensamento dirigido à irmã: “Entenda, Nadir… Eu sou mãe… E sei que falhei em não deixar que a Ariela apanhasse do Alfredo. Mas com você e com a mamãe é diferente, com vocês eu me senti agindo onde tudo começou…”

Onde tudo começou… Flashbacks de várias surras do passado lampejaram em sua mente. Ela pôde sentir novamente o frio no estômago ao saber que havia uma surra a caminho, a quentura das lágrimas aflorando aos olhos enquanto via a expressão dura da mãe, o desgosto de ver a irmã apanhando sabendo ser a próxima.

E de repente não era mais a jovem Nadir apanhando, mas sim a adulta Nadir batendo. No colo, a Luiza chorando e se debatendo. Sentiu um nó na garganta ao lembrar que não fizera nada para interferir.

E então, quem estava no colo de Nadir não era mais a Luíza, e sim Ariela, chorando e protestando, o bumbum de fora cada vez mais vermelho.

A revolta subiu-lhe ao peito com um calor, mas ela resolveu cortar aqueles pensamentos. “Chega! Acabou meu tempo, vou bater ponto e ir para casa. Quero curtir a minha filha…” Mandou um recado à dona Francisca, dispensando-a de ficar até mais tarde.

Pensativa, tomou o caminho de casa, onde passou algum tempo com Ariela, jogando um jogo e conversando sobre novidade da escola. Ariela não falou no pai, mas a mãe achou por bem não tocar no assunto se ela não sinalizasse essa vontade. Mas ela estava mais interessada em falar do primo Cauan:

– Vamos chamar ele aqui de novo algum dia desses, mãe! Ou então, você deixa eu ir lá para o Rio? Deixa, deixa! É muito legal!

– Quem sabe nas férias, né, filha? – Respondeu a mãe, abrindo o riso – Agora, termine de guardar o jogo na caixa, que vou fazer alguma coisa para a gente comer! Aproveite e vá tomar um banho! E se tiver lição de casa, pode adiantar!

A filha obedeceu, enquanto a mãe se dirigia à cozinha. Lá viu o celular esquecido sobre o balcão apitar com uma nova mensagem, e olhou algumas fotos postadas no grupo da família. Uma delas mostrava ela e a irmã Nadir ainda meninas, e abaixo a legenda feita pela mãe: “Vejam as duas Pinta-Bravas! Tempos saudosos!” Tia Graça sentiu-se enternecida, e de súbito percebeu estar com saudades da irmã. Mal sabia que lá de sua casa, dona Nadir estava mirando a mesma foto.

– Jair, olha isso! Eu e a Gracinha pequenas…

Logo Ricardinho pulou em seu pescoço. “Deixa eu ver, mãe!” Ela mostrou, e Rafael, que vinha passando, chegou perto.

– Pode pá! A mamãe e a tia Gracinha, que figuras!

– A Gracinha era o lado sensato que eu não tinha! – Revelou dona Nadir, com um sorriso carinhoso.

De sua cozinha, tia Graça disse para si mesma: “Nadir, o lado ousado que eu não tinha…” Ambas ficaram pensativas, olhando as telas cada uma a seu canto, quando tia Graça decidiu fazer uma ligação.

– E aí, Nadir-Pinta-Brava!

– Diga, Graciola! – Respondeu dona Nadir, após um sorriso e uma pausa.

Satisfeita, a irmã fez o convite: “Acho que a gente precisa conversar… Que tal na sexta que vem?”

– Trato feito – Respondeu dona Nadir, com brilho no olhar – Traga a sobremesa, que o papo vai ser longo…

9 ideias sobre “Duas Filhas de Edivânia

  1. clara mareluz

    eu fico tão triste quando vejo que os pais de antigamente podiam ser tão violentos. mas eu gosto das suas histórias pq elas também mostram umas coisas boas que não existem mais. brincar assim tão solto na rua devia ser tão legal! nenhum amigo meu fez isso e nem eu. a gente só tem encontro no apartamento ou no prédio ou na escola mas nunca que a gente ia sair assim brincando nas ruas e os pais nem sabendo onde achar a gente. é engraçado que naquele tempo nem tinha celular e a mãe tinha que ligar na lojinha pra saber das filhas. liberdade que devia ser muito boa, nisso eu até queria ser criança ou ser adolescente naquele tempo. mas o lado muito triste é que batiam nos filhos e achavam isso uma coisa choca zero. nossa hoje não dá nem pra pensar em pai fazer isso e sair tão de boa. a gente anda com smartphone com app pronto pra fazer denúncia se alguém relar na gente LOL até parece que ia dar pra mãe fuzilar as filhas com um chinelo e nada acontecer com ela depois. só antigamente mesmo kkkkkk! mas muito legal, eu gosto de ler as coisas daqui. tá de parabéns com as suas histórias!

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    1. adolespanko Autor do post

      Olá, Clara!

      Era um outro tipo de vida, antigamente a garotada vivia solta no mundo real, hoje vive solta no mundo virtual rsrs. Em cidade grande não dá mais para viver assim, se bem que alguns condomínios agora estão incluindo áreas comuns e clubes onde a garotada pode brincar com mais segurança, mas no meu tempo não tinha isso não, eu fui bem “criança de apartamento”.

      Mas por outro lado, os pais podiam bater e todo o mundo achava isso normal. Aí fica aquela pergunta nunca respondida: se o pessoal apanhava e odiava apanhar, por que depois impunham o mesmo sofrimento aos filhos? Nessa história eu procurei algumas explicações. Note que a Nadir e a Gracinha são bem diferentes, mas ambas ficaram presas nesse ciclo interminável de apanhar e bater – a Nadir porque incorporou os costumes da família, e a Gracinha porque não toma uma atitude apesar de ser contra bater.

      Eu penso que a Nadir ficou assim porque foi muito pressionada por ser a irmã mais velha, aí mesmo na época ela não conseguia protestar quando apanhava – a reação dela era suportar estoicamente. Já a Gracinha foi pressionada por ser o “lado sensato da irmã”, então tinha que ser bem tranquila, sem bater de frente.

      Bjs.

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  2. Liam

    Oi, gente!

    Esses textos com a molecada andando livremente em lugares abertos são nostálgicos mesmo, eu ainda vivi isso. Já havia uns perigos que não devia ter no tempo dos meus pais, como assaltos e um pouco mais de trânsito, mas como eu e os meus irmãos crescemos em uma cidade de tamanho médio e quase essencialmente turística, a vida dos moradores era tranquila e a gente ficava bem solto. Meus amigos e primos que cresceram em cidades grandes já tinham outra realidade. Lembro bem como fiquei surpresa quando um amigo meu que sempre passava férias na minha cidade disse que nunca tinha andado de ônibus sozinho, e nem sabia como fazer sinal para o ônibus parar… Comecei a pegar ônibus sozinha com uns nove anos. Idade que o meu filho tem hoje, mas ele não anda sozinho, e nenhuma outra criança que conheço sai sem supervisão, como nós saíamos e todo mundo achava normal.

    Hoje em dia nós não moramos em condomínio fechado, mas o nosso bairro é bem arborizado e tem muito espaço livre, então os meus filhos até brincam bastante fora de casa. Mas sempre com a gente olhando, diferentemente do meu tempo. Às vezes eles também vão para escola de bicicleta, mas só com o nosso acompanhamento.

    Celulares no meu tempo de criança? Esquece, kkkkkk! Eram uns trambolhos, e caros demais. A internet também era uma tosqueira, só tinha a discada e o sinal caía toda hora, sem falar na lerdeza! 😂 Várias vezes a gente deixava uma página carregando e ia fazer outra coisa até completar, de tanto que demorava. E agora, a filha de uma amiga minha, menina de onze anos, veio me perguntar: “Nossa, mas não tinha whatsapp?” 😉 Respondi: “Não, amigona! Quase não tinha nem celular… E a gente brincava de passar trote pelos telefones públicos, os orelhões, e tinha gente que até colecionava aqueles cartões telefônicos.” Eles escutam essas histórias e acham tudo pré-histórico, kkkkkk! É um barato…

    Adolespanko, vou falar o que acho dessa situação que você trouxe para o texto: lembrando de outras histórias com a Ariela, achei que a avó vacilou quando disse que ela não deveria contar à mãe que havia apanhado da tia. Ficou entendido que a avó só queria evitar uma briga entre as duas filhas, mas essa responsabilidade não é da criança, os adultos que se resolvam em suas trêtas, e por isso a Ariela tinha todo o direito de falar à dona Graça o que estava acontecendo (e que bom que ela tem essa confiança na mãe). Pelo jeito a dona Graça bailou a tarantela, e com toda a razão, mas parece que isso não atrapalhou a relação entre ela e a dona Nadir, e no final a conversa deu certo. Por mais que a dona Nadir esteja errada, eu ficaria chateada se essas irmãs ficassem brigadas “para sempre”. Olha a amizade das duas! ☺️ Muita gente é um grude quando criança, mas depois que cresce sente um conflito de valores e acaba se afastando. Ainda bem que não foi o caso da Nadir com a Gracinha.

    Beijos!

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    1. adolespanko Autor do post

      Olá, Liam!

      Isso de crianças andando e brincando livremente pelas ruas era coisa que eu só via em HQ no meu tempo. Eu achava bem aventuresca aquela vida livre dos personagens, eles faziam muitas artes, mas por outro lado, as artes sempre eram pagas com eles apanhando no bumbum no último quadrinho. Muito parecido com a sua turminha, né?

      Eu fui a típica criança de apartamento, sendo que no meu tempo não havia nada disso de play, área comum nem espaço de recreação, muitos prédios não tinham nem garagem. Acho que peguei uma transição brusca entre a vida em casa e a vida em apartamento, antes dos construtores começarem a se preocupar com as inconveniências para as crianças de uma vida em apartamento.

      Você acertou: a Gracinha e a Nadir se entenderam muito bem, como sempre aconteceu desde a juventude, e com certeza a Gracinha fez a Nadir se tocar de muitas coisas. A atitude da avó foi bem “vaselina”, mas entende-se: uma coisa que os adultos se esforçam ao máximo para evitar, é que as crianças coloquem um adulto contra o outro. Assim eles sentem que perdem o controle.

      Bjs.

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      1. Liam

        Oi, Adolespanko!

        Eu pensei que no seu tempo, brincar fora de casa fosse o normal, porque os meus pais sempre brincavam. Mas é mesmo, em qualquer tempo as pessoas podem viver realidades diferentes (como entre eu e as outras crianças da minha geração que não tiveram a mesma liberdade, porque viviam em metrópoles enquanto eu vivia em uma cidade menor), e a gente não deve se basear só na nossa experiência para olhar o geral. Os meus pais vêm de cidades grandes, mas o meu pai cresceu em um bairro menos urbanizado (a casa dele parecia uma mini chácara), e a minha mãe brincava nas ruas mesmo nas fases em que morava em apartamento, porque a área não tinha tanto movimento. E ela conta que quando morava em casa, o pessoal pendurava a chave em um ganchinho que ficava atrás do portão, e era só passar a mão por trás e pegar. Qualquer um podia entrar, ninguém nem pensava em invasão ou assaltos… O meu tempo já não foi assim tão na manteiga, a gente já se preocupava em trancar bem a casa, e hoje em dia o nosso portão é fechado por eletromagnetismo.

        Nem sempre as coisas que a gente fazia terminavam em surras, porque nem sempre as presepadas eram descobertas, e mesmo quando eram, os pais do meu tempo até batiam, mas acho que já pegavam mais leve do que aquele pessoal da época dos meus pais. A minha mãe apanhava por cada bobeira, e o meu pai então, nem se fala… Nesse ponto eu até consigo pensar que a gente aprontava para caramba, e na maioria das vezes só levava bronca, por coisas que os meus pais teriam sido “arrebentados”. Mas não tivemos a sorte da molecada que hoje, que em sua maioria não apanha, e nem mesmo sabe o que é isso, já que os pais que têm a minha faixa de idade (geralmente) não concordam mais com esse tipo de criação.

        Acho que a avó da Ariela errou porque não se deve desencorajar uma criança a pedir ajuda quando acha que precisa, principalmente se a ajuda for dos próprios pais. Não é jogar um adulto contra outro, é mostrar à criança que ela não é obrigada a concordar com tudo o que os outros fazem, e que até nas mesmas famílias as pessoas podem ter opinões e valores diferentes, e contestar isso é normal. Acho até um aprendizado legal para uma menina dessa idade, para ela não crescer como uma goiabona que diz “amém” para todos. Se a avó não queria que a neta contasse tudo à mãe, deveria pelo menos ter feito isso no lugar dela, e dado uma boa ensaboada na dona Nadir por ela ter desrespeitado a irmã e a sobrinha. Mas família é fogo, né? Tem hora que “só Jesus na causa”, como diz a minha avó…

        Beijos!

  3. Maurinho Fabiano

    Olá, Arnaldo!

    O conto me trouxe um pensamento. Quando mocinho eu via muita gente ficando o dia todo fora de casa pra evitar contato com pais severos e abusivos. Não era todo mundo que tinha pais assim, mas quem tinha ia pra rua ou pra casa de vizinho. Havia cabrinha que até passava dias e noites abrigado em outra casa pra não ter encontro com alguém de dentro de seu lar. A maior contradição era que meu pai falava que nos dava peia porque queria nos proteger dos perigos de fora, principalmente em nossa adolescência. E por isso era que queríamos mais ainda ficar nas ruas, as vezes era por medo dele nos lascar a cinta ou as alpercatas de couro dentro de casa. Isso já tem tempo, mas como será que fica para os jovens de hoje? Eles passam um tempo muito maior em suas casas do que as pessoas daquela época, e muitos desses jovens ainda ficam horas com telas e eletrônicos. Se tem pais que batem neles, pra onde eles vão quando querem refúgio? Se nas ruas não dá mais, mesmo em muitas periferias como é o lugar onde cresci. Pode ser que hoje os vizinhos já se envolvam mais nessas situações de surras e problemas domésticos, e os próprios jovens também já devem ter bem mais como pedir ajuda nesse tipo de problema. Mas quando eu era menino e rapaz a saída era ir pra rua mesmo. Meu pai tinha razão de se preocupar com os perigos daquele mundo, mas dar surra em filho de deixar sem sentar parece que só coloca o cabra mais perto de onde não deve, tomara que os pais de hoje pensem mais nisso. Conto mara, gosto desse tipo de história que entretém e também faz pensar.

    Saudações!

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    1. adolespanko Autor do post

      Salve!

      Acho que hoje muitos jovens desajustados na família se refugiam tanto no mundo virtual, que criam uma nova identidade para si próprios e passam a viver em uma realidade paralela. Os pais de início nem ligam muito, porque estão presos ao paradigma antigo de que na rua é que estão os perigos, e até acham bom que o filho seja tão quieto e fique tanto tempo em casa. Só percebem o perigo quando já é tarde demais.

      Lembro o caso Pesseghini.

      Grande abraço!

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  4. Kiara

    Boa tarde, autor!

    Não tem muito a ver com o conto, mas a leitura e as discussões me fizeram lembrar de um gibi antigo do Cascão. É de 93, antes de eu nascer. Mas eu li quando era criança porque uns primos meus mais velhos me davam uns gibis do tempo deles, e eu gostava muito. Nessa historinha o Cascão conhece um menino chamado Guto, que simpatiza com ele e faz um convite pra ele entrar e brincar em sua casa. Mas as vidas dos dois são bem diferentes. Quando eu era pequena não percebi muito bem alguns detalhes dessa historinha, agora vejo que ela tem tudo a ver com essas questões que ainda existem 30 anos depois, tipo excesso de brinquedos mas falta de atenção, crianças com muita carência e sem liberdade, preconceito entre as classes, essas coisas. Acho que a moral da história não é que criança sem dinheiro é mais feliz, mas que criança sem liberdade não é criança, com ou sem dinheiro. Eu entendi assim. Tem aqui em vídeo:

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    1. adolespanko Autor do post

      Olá, Kiara!

      Acho que e grande magia das histórias do Maurício de Souza é que consegue expor situações reais, apesar dos personagens de características bem exóticas. É o que diferencia das HQ mais massificadas.

      Bjs.

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